Fabrício Soares e Bárbara Muniz Soares *
O mais recente relatório do Painel Internacional sobre Mudança de Clima (IPCC, sigla em inglês), de março de 2023, reafirma o aumento dos termômetros mundiais captado em relatórios anteriores e adverte: nos anos 2006-2015 tiveram temperatura superior à do período 1850-1900 em 1,53 grau centígrado.
A comunidade internacional está se movimentando para reduzir suas emissões. Para oferecer parâmetros de mensuração de pegada climática à comunidade global, buscando, sobretudo, enquadrar as atividades industriais oriundas dos países desenvolvidos, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 1997, o Protocolo de Kyoto.
Trata-se do primeiro tratado internacional com vistas a estabelecer limites às nações de emissões de gases de efeito estufa (GEE), principais causadores do aquecimento global, visando à transformação de reduções voluntárias em obrigatórias.
E para incentivar o setor privado a cumprir as normativas ONU, uma vez que somente os países são os entes signatários, o tratado incluiu um mecanismo para a criação de um mercado voluntário de créditos de carbono, viabilizados por empresas com interesse em neutralizar suas emissões de GEE a partir da troca com outras empresas e países que diminuem suas emissões.
As companhias que desenvolvem projetos socioambientais junto a comunidades vizinhas a empreendimentos e engendram esforços de monitoramento de áreas verdes circunvizinhas contam com ainda outro estímulo econômico para integrar esse mercado: implementando essas iniciativas, as empresas conseguem aumentar o valor de seus créditos negociados, que são alçados à categoria “Premium” e passam a valer mais. A responsabilidade socioambiental faz bem aos negócios.
O mercado de créditos de carbono desempenha um papel crucial na luta contra as mudanças climáticas, incentivando a redução de emissões e a transição para uma economia mais sustentável. Ele continua a evoluir à medida que mais países e organizações confirmam a importância de limitação das emissões de GEE.
Embora fizesse parte do grupo de nações que não era obrigado a assumir as metas do Protocolo, em virtude de seu grau de industrialização incipiente, o Brasil aderiu a ele e o governo federal brasileiro está finalizando, ainda neste ano, uma proposta de regulamentação que permite que empresas ou atividades com potencial poluidor neutralizem suas emissões de gases que provocam o efeito estufa a partir da compra de créditos de iniciativas sustentáveis. A previsão é de que o texto seja aprovado até o fim do ano.
O potencial do Brasil para as negociações no mercado de crédito de carbono é tão grande que a primeira bolsa de valores de crédito de carbono do mundo é brasileira. A “B4”, lançada em agosto de 2023. A previsão é de que as negociações dessas ações movimentem cerca de 12 bilhões de crédito de carbono ao ano. O País pode se tornar a principal nação mundial do mercado verde. Àqueles capazes de enxergar o senso de oportunidade na adaptação aos desafios ambientais contemporâneos o futuro se mostrará promissor. Mãos à obra!
*Fabrício Soares – diretor-executivo da FOCO Inteligência de Relacionamento e especialista em Relações com Comunidades // Bárbara Muniz Soares – gerente comercial na Ecosecurities e especialista em Mercado de Carbono