Relações entre o setor minerário, territórios, comunidades e sociedade em geral foram debatidas

 

Nos dias 8, 9 e 10 de novembro, Belo Horizonte sediou o Congresso Mineração & X Comunidades, que reuniu grandes especialistas do setor mineral e lideranças de empresas mineradoras. O encontro foi organizado pela revista Brasil Mineral, uma das principais publicações do setor de mineração do país.


O Congresso, que está em sua 7ª edição, aconteceu no formato presencial e também contou com transmissão ao vivo, pelo canal da revista na plataforma YouTube. O objetivo do encontro foi o de fomentar o debate sobre as relações entre o setor, os territórios, as comunidades e a sociedade como um todo, buscando discutir problemas e soluções para questões que, muitas vezes, são comuns ao segmento.


A FOCO Inteligência de Relacionamento marcou presença no evento e pôde, mais uma vez, aprender sobre as melhores práticas de comunicação e gestão de relacionamento com comunidades.


Sob a temática “Engajamento e Governança Social: Um caminho sem volta?”, distintas autoridades do setor problematizaram diversas questões, tais como:


• A mineração pode melhorar a sua reputação e ser mais bem aceita pela sociedade?

• Quais seriam as alternativas de apoio do setor minerário ao desenvolvimento social, econômico e ambiental dos territórios e da sociedade como um todo?

• A destinação e aplicação do CFEM e de outros impostos gerados pela mineração têm sido feita de maneira eficiente?

• Como a sociedade pode se organizar para garantir que a mineração gere valor agregado para os territórios em que atua?

 

Debate para além das comunidades diretamente afetadas

 

Nosso modelo de sociedade é largamente baseado em atividades que envolvem mineração. Nesse sentido, as reflexões sobre a dinâmica da indústria mineral, o ciclo de vida das minerações, as alternativas e os desafios do desenvolvimento sustentável participativo devem envolver toda a sociedade, uma vez que todos nós somos impactados pelas atividades de mineração, direta ou indiretamente.


Para as comunidades que vivem próximas aos empreendimentos minerários, contudo, os impactos negativos e positivos da mineração são diretamente percebidos. Não deve ser fácil conviver com o aumento do tráfego de veículos, poeira e ruídos todos os dias, isso sem levar em consideração as mudanças no modo de vida que muitas comunidades precisam enfrentar com a presença da mineração.


Diante desse cenário, cada vez mais as empresas vêm investindo em projetos socioambientais estratégicos, capazes de potencializar a vocação dos territórios e das comunidades, que envolvem, mas não se restringem, a capacitação e formação de mão de obra e de serviços locais, a criação de áreas de preservação ambiental, o fomento do empreendedorismo e outras iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável dos territórios.

 

Problemas de comunicação e de reputação

 

Muito do que se discutiu no Congresso está ligado às melhores práticas responsáveis de atuação socioambiental e respeito às pessoas, sob o guarda-chuva de uma boa governança. Nesse sentido, as falas estiveram permeadas por conceitos como Princípios do Equador; Ambiental, Social e Governança (ASG ou ESG, em inglês); Licença Social para Operar (LSO) e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU).


As relações entre ESG e ODS nas estratégias de negócios foram bastante abordadas. Para os especialistas, a conciliação entre ESG e ODS que vem sendo adotada pelas companhias possibilita a abertura do diálogo entre as partes envolvidas, a negociação de conflitos e a adoção de práticas sustentáveis que garantam recursos para o mundo atual e as gerações futuras.


Mas, como fazer com que a sociedade saiba, perceba e reconheça que as empresas estão de fato preocupadas com as pessoas e com o meio ambiente? Para isso, é necessária a adoção de estratégias de comunicação e relacionamento, temas que são diretamente ligados ao negócio da FOCO.


Para nós, assim como para vários palestrantes, a comunicação deve ser intencional e proativa. Canais de comunicação, com os diversos stakeholders, precisam ser criados e devidamente utilizados para ampliar o entendimento dos públicos sobre o projeto, as intenções da empresa e como ela pretende direcionar investimentos para o território. Porém, só é possível estabelecer esses critérios a partir do conhecimento profundo das comunidades, o que elas querem e do que precisam. Essa postura envolve, sobretudo, uma escuta ativa de todos os públicos.


Somos uma consultoria especializada na Gestão de Relacionamento com Comunidades. Para nós, comunidade é todo o grupo de pessoas que possuem poder de voz, que se unem em torno de interesses comuns, compartilham o mesmo território físico ou virtual e impactam ou são impactados por uma marca.


Acreditamos que é na escuta ativa e cuidadosa que está a chave para a tomada de decisões que se transformam em resultados para os negócios, com estratégia de comunicação e relacionamento. Elaboramos e executamos planejamentos estratégicos de comunicação social e relacionamento institucional. Também desenvolvemos diagnósticos e pesquisas avaliativas com foco na gestão dos públicos estratégicos para a marca.


Sabemos que as empresas vêm despendendo grandes esforços no fortalecimento de sua reputação. Entretanto, uma pesquisa publicizada no Congresso Mineração& X Comunidades mostra que esse empenho não está sendo refletido na opinião pública.


Paulo Henrique Soares, diretor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), e Marcela Ferreira, Senior Director e Advisory (AMERICAS) da REPTRAK, apresentaram a “Pesquisa de Reputação do Setor Mineral – IBRAM”. Para eles, o setor minerário tem problemas não apenas de comunicação, mas também de reputação.


Na pesquisa, foram analisados os seguintes grupos de stakeholders:


• Imprensa;

• Entidades de classe;

• Poder público;

• Lideranças comunitárias;

• Fornecedores;

• Organizações Não-Governamentais (ONGs);

• Empregados.

 

De acordo com a pesquisa, os fatores de maior peso na reputação do setor de mineração são:


• Segurança operacional (principalmente ligada às barragens de rejeito);
• Aspectos ligados ao trato social;

• Conduta ética, responsável e transparente (diálogo aberto e boas relações com as comunidades);

• Uso responsável dos recursos naturais.

 

“A reputação envolve o que as pessoas falam, o contexto e as experiências que as pessoas têm com o setor minerário. A reputação entre esses públicos específicos é baixa, mas oscila. Vejam, não se falou em geração de empregos ou de impostos. Desde a década de 1990, o setor vem se estruturando no campo ambiental. No campo social é que está o maior desafio”, frisou Paulo Henrique. Não custa lembrar que a geração de empregos e a arrecadação de impostos são atributos muito citados por mineradoras quando o assunto são os impactos positivos gerados pela mineração.


Marcela Ferreira destacou que a reputação do setor junto às comunidades é mediana e fraca, mas nunca forte. A pesquisa identificou que a comunicação precisa ser mais objetiva com a sociedade e as comunidades. “Há diferentes dificuldades de demanda para atender aos territórios. Todos os atores devem manter o diálogo no trato social e isso demonstra a necessidade de um investimento social”, afirmou Marcela.

 

Conclusão

 

Os dados demonstraram que as estratégias de comunicação precisam ser mais bem trabalhadas.


“As contribuições para a comunidade precisam ser informadas. Canais de comunicação devem ser criados. É preciso começar o diálogo e o reporte pela comunidade. Mesmo as empresas bem-estruturadas apresentam inconsistências na comunicação. Falta clareza na comunicação com o público local e faltam canais para que eles possam apresentar suas demandas”, finalizou Paulo Henrique.


É preciso pensar a relação do setor mineral com os stakeholders em termos de legado: qual será a herança deixada pelos empreendimentos em suas áreas de atuação para as comunidades e para a sociedade?


As estratégias de comunicação precisam melhorar, é fato. Mas, as empresas também precisam comprometer-se genuinamente com as melhores práticas em sustentabilidade e relação com comunidades, porque a comunicação, sozinha, não faz milagres.

 

Autores:


Carolina Brauer

Fabrício Soares


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

FERREIRA, Marcela; SOARES, Paulo Henrique. In: Mineração & X Comunidades, nº 7, 2022, Belo Horizonte. Pesquisa de Reputação do Setor Mineral – IBRAM.